domingo, 30 de março de 2008

A senhora emancipada



Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.


Clarice Lispector


Reconhece-se na sua obra e consequentemente na sua pessoa, uma mescla de fragilidade, determinação, vontade, receio, ambição, avanços, recuos... Como se o contrasenso pudesse habitar numa só alma, sendo isto perfeitamente normal. Resta-me a pergunta - E não o é?
O que importa: Adoro Clarice Lispector! É a perfeita representação de tudo o que a Mulher é. Ou deveria ser!

sábado, 29 de março de 2008

:)

Ao R. e ao A., o meu OBRIGADO por tudo quanto têm feito, por acharem sempre que é pouco e que há sempre algo mais a fazer. O meu agradecimento pelo incentivo, por acreditarem (cada um à sua maneira) e porque de uma forma ou outra estão sempre mas sempre presentes.
Isto em tão pouco tempo.
Gosto de vocês.

quinta-feira, 27 de março de 2008

3 no mesmo dia

É o chamado 3 em 1. Três posts no mesmo dia. Mas este não poderia deixar de fazer.
Ontem, noite de concerto de Shout Out Louds com a menina dos sapatos vermelhos a fazer a 1ª parte. Começando por ela, é notório que a sua performance em palco melhorou desde Fevereiro (à data do concerto de Lagos), dona de uma voz enorme, apresentando canções lindíssimas, pouco a pouco e com a calma que a caracteriza, a menina chega onde quiser.
Os senhores da noite foram completamente imprevisíveis. Cheguei à Aula Magna à procura da prova que me faltava para os ter como banda de eleição e consegui. Meus amigos, eles tocam. Mesmo com o material perdido em Milão, os Shout Out Louds deram um bom concerto. Desfilaram temas perante uma plateia animada q.b. que só se deixou arrebatar primeiro com o Impossible e em definitivo com o hit da Optimus - Tonight i have to leave it. E por falar na operadora móvel laranjinha, há que louvar e agradecer os concertos que eles têm agendados. Nomes como The National (já esgotados), The Kills, Cat Power, CocoRosie, Animal Collective, Kings of Convenience, Beirut e já para não falar de outros nomes que fazem parte do cartaz do Alive deste ano. Bem melhor que o do Super Bock, em minha opinião.
É bom, dá gosto ver que produtoras e orgãos de comunicação se esforçam para trazer boa música a Portugal. Falo assim, porque cada vez mais os concertos são descentralizados. Já nem todos acontecem em Lisboa e Porto, felizmente.
E logo à noite, Portishead... Estes já não têm nada a provar, só um estatuto a manter.

(Re)formulações

Num outro dia (leia-se ontem) confessei que tenho de alargar um pouco mais os meus horizontes cinematográficos.
Talvez devesse mudar um bocado o sentido da coisa e assumir que tenho de deixar de ser tão fundamentalista (sim, também o sou) e não descartar/pôr de lado obras e produções só porque à partida, a associação que faço ao nome dos autores me desagrada.
Tal como o Juno me soava a nada (e nada de vazio mesmo), este No dia em que fugimos tu não estavas em casa do Alvim não me despertou interesse nenhum.
Peguei nele só porque achei o título sugestivo mas quando vi que era ele o autor pensei: "mas este gajo lá escreve alguma coisa?" E surpresa das surpresas... escreve pois! Com sentido e muito sentimento até!
Realmente isto de se rotular (seja o que e quem for) não traz nada de bom, quase sempre te enganas quanto aos pseudo-julgamentos que fazes e cedo ou tarde tens surpresas. A questão é que, algumas são boas outras más.
Daqui por diante garanto que vou ser mais "open mind", devo ganhar muito mais assim, aprendo a selecionar, mas uma coisa é certa, Paulo Coelho, Nicholas Sparks e Margarida Rebelo Pinto (a nível de livros - sim, nem ouso incluí-los na classe literária), música tipo Rise Up, Love Generation, Whine Up e filmes como 27 dress, Air Force One e outros que tais estão definitivamente confinados à minha black list.
Que me perdoe quem goste e bem sei que gostos não se discutem, mas não consigo reconhecer-lhes qualquer qualidade.

Já não se morre de amor...

O senhor tem um problema no coração” diz já o doutor (…) O seu coração está muito fraco e isto é a sala de operações”, disse-me enquanto pegava numa espátula. “Você está a morrer de Amor, é maligno, lamento dizer-lhe que não lhe resta muito mais tempo, que não existe cientificamente cura para o mal de que padece. Não é o único, não será o único e só as radiografias que lhe vou tirar poderão dizer-me quanto tempo lhe resta. (…) “Afinal estava enganado, não é desta que morre, você tem cura, não há a menor dúvida, está tudo aqui, nas radiografias que lhe tirei ao coração. E no fundo era tão fácil, ao alcance de qualquer olhar, repare bem nelas, observe-as e diga-me o que elas dizem .E então, nesse preciso momento, peguei nas radiografias que tinham tirado ao meu coração e estiquei os braços em direcção ao sibilante fio de luz que entrava pela única janela do meu quarto, reparando agora com toda a clareza, que no meu coração, estava inscrito um nome, o teu, em letras muito pequenas.

Fernando Alvim

in No dia que fugimos tu não estavas em casa.


... mas há alturas em que parece que vemos mesmo a morte de perto. Chamar-se-á a isso saturação?

quarta-feira, 26 de março de 2008

Sweet little sixteen



JUNO

Era suposto não ter visto este filme.
Era suposto estas não serem as melhores circunstâncias para me deitar na cama e passar hora e meia deliciada.
Era suposto o tema da gravidez na adolescência já ser coisa batida.
Era suposto que Juno não retratasse tão bem as dores do crescimento/amadurecimento.
Era suposto ser contra filmes que a Jennifer Garner faz (quanto a mim ela só faz bem o ALIAS).
Era suposto a Ellen Page ser apenas uma (pequena) actriz - mesmo depois de ter protagonizado outro dos meus filmes de eleição, Hard Candy.
Era suposto que a Juno não fosse incrivel/surrealmente tão madura.
Era suposto a banda sonora não ser tão boa (Velvet Underground, Belle and Sebastian e o final comovente em que a Juno e o Bleeker cantam uma versão de Anyone else dos The Moldy Peaches).
Era suposto este ser um filme simplista.
Era suposto este não ser um filme inteligente.
Era suposto este não ser um filme tocante.
Era suposto evitar comparações com o Little Miss Sunshine.
Era suposto este ser um filme estereotipado e óbvio quando na verdade ultrapassa qualquer expectativa, tornando-se numa história divertida e doce.

É suposto e urgente que eu alargue ainda mais os meus horizontes cinematográficos, veja de tudo, para que assim tenha a oportunidade de me deixar surpreender por filmes tão bons quanto este mas que à partida nada me sugerem... ou cativam.

Take my advice. Vale a pena este Juno.

terça-feira, 25 de março de 2008

Falar, falar, falar e nada dizer...

Passei por ti na rua. Fingiste não me ver. O teu olhar seguiu as pedras da calçada como se só elas, no seu silêncio te merecessem atenção, te atraíssem, te prendessem. Deixei-te seguir o teu caminho, silenciosa, cabisbaixa, acabrunhada, virada par dentro de ti mesma, como se o mundo ao teu redor não existisse, não te interessasse, nada tivesse para te dizer. Como se apenas tu existisses na imensidão deste cosmo em que rodamos sem poder contrariar a sua velocidade e sua direcção. Não quis falar contigo naquele momento, porque sei que há momentos que precisamos estar sós para nos encontrarmos, para fazer as pazes com os nossos sentimentos que a vida perturba. Amamos, odiamos, sofremos e sentimos a nossa pequenez e nossa incapacidade de fazer com que o mundo se volte e siga o rumo que nós queríamos que ele seguisse. Não conseguimos que a nossa vontade comande o mundo. Queríamos que os outros seguissem o nosso caminho, viessem ao encontro dos nossos desejos, das nossas necessidades. Eles não vêm. Aquele que amamos ignora-nos. É cruel este mundo. Mas é assim. Esse outro que nós amamos é um ser igual a nós. Também ele não consegue mudar o mundo. Também ele ama e, talvez também não seja amado como gostaria e como tinha direito. Todos temos direito à satisfação dos nossos desejos, dos nossos sentidos, ao gozo e usufruto da beleza, da arte da música, da poesia, ao amor.
E o que fizeste tu para mudar este teu estado de sofrimento? Pensaste que não és a única?! Que também aqueles que passam por ti, mesmo aqueles que parecem ser felizes, também podem não o ser? O que fizeste para sair da tua solidão? O que fizeste para reparar, para minimizar a solidão dos outros? Ofereceste um sorriso ao teu vizinho? Telefonaste aquela tua amiga que já não vês há muito tempo? Convidaste os teus amigos, as tuas amigas para um chá, um café em tua casa ou na pastelaria onde passaram bons momentos? Lembraste-te de oferecer uma flor a quem está perto de ti.
Não!... não te lembraste disso. A tua solidão voltou os teus sentidos para dentro de ti.
Eu não quis dizer-te nada naquele momento. Digo-te agora. Os outros podem fazer alguma coisa por ti. Mas és tu....só tu... que podes fazer todo o bem por ti própria.
Sai de ti.... volta-te para o mundo, para os outros, sorri, fala, comunica, oferece, dá de ti tanto que tens para dar, e encontrarás o teu caminho, o remédio para a tua solidão.
Eu estou à espera do teu amor.


João Norte

INTRO.VERTIDO



Porque na literatura portuguesa, há autores e pessoas que merecem ser descobertos... Que (em alguns casos) têm tanto ou mais valor que muitos que para aí andam e pouco ou nada escrevem.
Porque cada vez mais me apercebo que é na simplicidade que encontro as minhas maiores e melhores lições...
Porque no universo dos meus imensos porquês, quaso sempre alcanço as respostas de que preciso com coisas pequenas mas inteiras.


http://intro.vertido.weblog.com.pt/

Façam o favor de espreitar!!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Lily Allen - Naive (cover the Kooks)



É a minha música do momento. "Repesquei-a" do ano 2006 em que passei o verão inteiro a ouvi-la e acho que a devia ter levado mais a sério quando o Luke Pritchard (vocalista dos the Kooks) cantava-a ao meu ouvido - "you're so naive..." sou pois...
E como!!
Anyway, gosto imenso da versão desta menina que me encanta com o seu jeitinho pueril. é linda!!!

Procura-se quem me encontre.

domingo, 23 de março de 2008

Largar é difícil



Agora dou por mim, a olhar para calendários antigos e a contar os dias em que fomos felizes.

Chamar-lhe-ia espelho...

"O que queres de mim afinal? Por que insistes em voltar para a minha vida se é para não entrar?
Ficas na porta entreaberta. Um pé dentro, outro fora. E eu queria-te aqui, junto de mim.
Cansei de estender a mão, acreditando que segurá-la-ias. Cansei de pensar que poderia ajudar-te um dia, de novo, a amar. Mas tens medo.
Eu olho para a porta e não sei o que fazer. Queria-te do lado de cá. Mas não entras.
Cansei de insistir.
Cansei de pensar que juntos conseguiríamos.
A porta está entreaberta. Assim permanece há meses. Nem eu fecho, nem tu entras. Com medo. Eu, por medo de te perder. Tu, por medo de te envolveres. E jogas com isso, na certeza de que o meu medo é maior que o teu.
Eu olho para a porta e vejo nos teus olhos a inconstância. Os meus convidam-te a entrar. Os teus desviam, olham para os lados. Talvez a procura de algo melhor. Ou de uma saída.
Ficamos os dois na porta entreaberta. Eu queria-te aqui dentro. Mas não entras. Ficas parado a olhar.
Cansei de te convidar para entrar. Cansei de te esperar. Cansei de chorar pela falta que me fazes, do lado de cá.
Eu olho para os teus olhos e mais uma vez os meus chamam-te para o meu lado. Tu ficas parado. Eu sigo olhando-te. Insisto pela última vez. Tu não te mexes. Não entras. No fundo, o teu medo é maior que o meu. Então, eu fecho a porta."

in
Uma vez por semana

sábado, 22 de março de 2008

Um dia, hei-de esquecê-lo...



Eu logo o esquecerei, meu bem, por isso deve
Gozar tudo isto ao máximo, seu breve dia,
Seu breve mês, sua metade-de-ano breve,
Antes que eu morra, esqueça, ou parta - o que seria
O fim para nós dois. Aos poucos, já lhe disse,
Hei de esquecê-lo, mas agora, me repita
Seu protesto mendaz com a maior meiguice,
Que eu lhe farei a minha jura favorita.

Eu gostaria de um amor mais prolongado
E com promessas menos frágeis do que são;
Mas, assim mesmo, a natureza tem logrado
Marchar avante sem qualquer interrupção...
Se é encontrável ou não o que se está buscando,
É vão, do prisma biológico falando.


Eu logo o esquecerei, meu bem

Edna St. Vincent Millay



Hoje é o dia!!

O que o Paulo Furtado...



...aka Lengendary TigerMan desconhecia, é que cheguei atrasadíssima ao concerto, a ponto de só conseguir ouvir as suas duas últimas músicas. Desculpa aí, padrinho!
Valeu a after party no Xuven em que ele apareceu, só para dizer olá!!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Estórias contadas, talvez inscritas na minha própria História

Nada de novo.
Continuo a ludibriar-me, está na minha natureza. Continuo a desconfiar de ti, fruto das minhas vivências. Já nada de verdadeiro nos resta, excepto talvez o facto de uma nova vida estar a surgir. Provável que seja este o momento de deixar-te ir, de ir eu no meu caminho mas falta-me a

evidência que me leve a odiar-te legitimamente.
De noite procuro em mim as forças que me faltam para não pensar em ti no dia seguinte, revejo mentalmente as palavras (poucas) que me disseste e faço delas estandarte para minha/tua perda. Não aguento mais! Frase tão repetida que até eu mesma já me cansei de a ouvir. Descubro sempre que aguento sempre mais qualquer coisa mas novamente a frase: Não aguento mais! Espanto-me com as desculpas que inventas para reconfortares a consciência, repugno o orgulho de não deixares que te toque, que nem sequer me aproxime. E a pergunta: és de mais alguém, não sendo meu? Num esforço de reconforto interno invento que essa indiferença é um castigo quando no fundo, bem lá no fundo sei bem que é um alívio.. Apetece-me desencriptar-te. Descobrir todas as palavras passe de muitos caracteres, outros tantos dígitos que protegem e enrolam esse ficheiro que é o teu cérebro... Dar uma de hacker, tal como tu um dia o foste. Continuo à caça da prova de relevo do desamor, algo que não seja só mais um dado mas sim "o facto". O impulso que me faça seguir em frente e deixe a minha memória a marinar aqui por Lisboa. Ouvir que a aproximação e a necessidade de um abraço se resume muitas vezes a carne é derrotante, mortifica... É tão grande o vazio de ti que uma simples discussão é o suficiente para o bloqueio da mente, para a apatia do corpo, para a ignorância dos sentidos. A frase a latejar de novo: Não aguento mais! Talvez tenha sido sempre assim, procuras em mim o reconforto do teu ego. Como se me sentires no limbo, tornasse teu o lugar no céu. Soa como uma disputa e assim sendo repito, nada de novo.


"trouble is my head,
won't let me forget."
The Killers

quarta-feira, 19 de março de 2008

Sabemos todas sê-lo...



quando queremos muito uma coisa...


Nota: O dia do pai e da mãe este ano comemora-se de forma irónica...

terça-feira, 18 de março de 2008

Não me permito esquecer



"Sem memória esvai-se o presente que simultaneamente já é passado morto.
Perde-se a vida anterior. E a anterior, bem entendido, porque sem referência do passado morrem os afectos e os laços sentimentais.
E a noção do tempo que relaciona as imagens do passado e que lhes dá a luz e o tom que as datam e as tornam significantes, também isso.
Verdade, também se perde porque a memória, aprendi por mim, é indispensável para que o tempo não só possa ser medido como sentido."

in De Profundis, Valsa Lenta


José Cardoso Pires



Apenas acrescento que sem a recordação do que fui, daqueles a quem me dei e os outros com quem me construí jamais poderia ser o que sou hoje - gosto pouco de lugares comuns mas há aqueles de que tão óbvios ser, não há como se lhes escapar. Tenho a lembrança bem presente e prezo mantê-la viva, só não deixo que novos fragmentos lhe sejam anexados, guardo apenas o que é bom...

domingo, 16 de março de 2008

Nada como aprender com um deles...



Ontem nos copos com um amigo, ouvi algo importante que retive de tal forma que parece um disco em repeat na minha cabeça.

Citando-o:

Todos os homens mentem,
os ex-namorados mentem ainda mais.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Lisboa com olhos de ver...



Faço este trajecto há tanto, tanto tempo. Passeio-me por estas ruas vezes e vezes sem conta e nunca parei para perceber a real atmosfera que rodeia esta cidade. Passeava-me por lá com a música a tocar no meu ouvido, enquanto os turistas fotografavam amostras da nossa história. E porque não fazer eu o meu próprio banco de imagens? - pensei eu. E foi este o resultado. Fragmentos da minha cidade, por sinal cheia de encanto.
Obrigada ao(s) meu(s) acompanhante(s)

quinta-feira, 13 de março de 2008

Dearest Diary,



Descobri um novo prazer!
Enquanto estou na fila do supermercado à espera de pagar os bens (quase essenciais) de que todas as semanas me abasteço, aproveito para espreitar o cesto/carrinho de compras das pessoas que estão à minha frente. Os produtos que rolam sobre o tapete até chegarem às mãos da operadora de caixa, dizem muito acerca de quem os adquire... No meu caso por exemplo, se a pessoa que hoje se colocou imediatamente atrás de mim na dita fila tivesse a mesma ideia/interesse/prazer que eu, iria de certeza notar que, a par do leite, dos ovos, dos espinafres, da carne and so on, trouxe comigo uma embalagem de natas com sabor a cogumelos!! Será que alguém acredita que isto vai fazer diferença na bela da pasta que um dia destes vou fazer?!

quarta-feira, 12 de março de 2008

A viagem




"Well is this why you cling to every little thing
And pulverize and derange all your senses
"

PatrickPark



Completely me. =)
Em essência, com o corpo e com cada fragmento que faz parte do meu eu.
Há tanto a rever, a modificar, a melhorar, a ambicionar e até mesmo a acalmar...
Não me vou desviar, nem sequer pedir mais. Vou só emprender, auto-empreender-me. E chega, não mexe mais!

terça-feira, 11 de março de 2008

Ausência



Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade


Sim, há pessoas que habitam em mim.
Para sempre enquanto tiver memória. E a minha é da boa...
Mas não lhes sinto a falta, valem muito mais assim!

segunda-feira, 10 de março de 2008

ao TEU silêncio
quando me magoa,
chamo desprezo.

Daniel Sant'Iago

domingo, 9 de março de 2008

Elos

E há sempre uma enorme vontade (renovada) de te procurar, de estar, de te ouvir, de interpretar cada uma das tuas palavras, de construir o puzzle gigante com cada frase tua, de encontrar na tua pessoa o poeta (que efectivamente és)!

... O meu sorriso, para ti. =)

sábado, 8 de março de 2008

HONEY




See the tree how big it's grown
But friend it hasn't been too long
It wasn't big.
I laughed at her and she got mad
The first day that she planted it
'Was just a twig.
The the first snow came
And she ran out to brush the snow away
So it wouldn't die.
Came runnin' in all excited
Slipped and almost hurt herself
I laughed till cried.

She was always young at heart
Kind a dumb and kind a smart
And I loved her so.
I surprised her with a puppy
Kept me up all christmas eve
Two years ago.

And it would sure embarrass her
when I came home from working late
'Cause I would know
That she'd been sittin' there and cryin'.
Over some sad and silly late late show:

And Honey I miss you and I'm being good
And I'd loveto be with you if only I could.

She wrecked the car and she was sad
And so afraid that I'd be mad
But what the heck.
Though I pretended hard to be
Guess you could say she saw through me
And hugged my neck.
I came home unexpectedly
And found her crying needlessly
In the middle of the day
And it was in the early spring
When flowers bloom and robins sing
She went away.

And Honey I miss you and I'm being good...

Yes
one day while I wasn't home
While she was there and all alone
The angels came.
Now all I have is memories
Of Honey and I wake up nights
And call her name.
Now my life's an empty stage
Where Honey lived and Honey played
And love grew up.
A small cloud passes over head
And cries down in the flower bed
That Honey loved.

See the tree how big it's grown...

Jack Green

Se ao menos deixasse de ver tantos filmes...
toda a minha vida seria um imenso tédio!!

terça-feira, 4 de março de 2008

Lei de Murphy - As 100 melhores

Duvido que se ponham a ler as 100 que aí seguem. Até eu confesso que, não as li todas. Gosto apenas de fazer registos para mais tarde consultar e poder dizer a mim mesma: "Viste, tu até tinhas tudo para saber que podia correr mal."
Mas por agora prefiro acreditar que só pode correr bem. Porque me sinto a lutar e a acreditar em mim mesma e vá... porque no fundo, no fundo... Sonhos são sonhos e mesmo guardados em cantos recôndidos do teu cérebro, podem bem acontecer.
O meu aí está, em processo de plena construção! =)


1. Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior
maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.

2. Um atalho é sempre a distância mais longa entre dois pontos.

3. Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do
manual.

4. Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que tu tens disponível.

5. Se há possibilidade de várias coisas darem errado, todas darão - ou a que
causar mais prejuízo.

6. Se perceberes que uma coisa pode dar errada de 4 maneiras e conseguir
driblá-las, uma quinta surgirá do nada.

7. Seja qual for o resultado, haverá sempre alguém para:
a) interpretá-lo mal. b) falsificá-lo. c) dizer que já o tinha previsto no
seu último relatório.

8. Quando um trabalho é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo piora.

9. Acontecimentos infelizes sempre ocorrem em série.

10. Toda vez que se menciona alguma coisa: se é bom, acaba; se é ruim,
acontece.

11. Em qualquer fórmula, as constantes (especialmente as registradas nos
manuais de engenharia) deverão ser consideradas variáveis.

12. As peças que exigem maior manutenção ficarão no local mais inacessível
do aparelho.

13. Se tens alguma coisa há muito tempo, podes deitar fora. Se deitares fora alguma coisa que tens há muito tempo, vais precisar dela logo, logo.

14. Sempre se encontra aquilo que não se está à procura.

15. Quando te ligam: a) se tens caneta, não tens papel. b) se tens papel
não tens caneta. c) se tens ambos ninguém te liga.

16. A Natureza está sempre à favor da falha.

17. Entre dois acontecimentos prováveis, sempre acontece um improvável.

18. Quase tudo é mais fácil de enfiar do que de tirar.

19. Mesmo o objecto mais inanimado tem movimento suficiente para ficar à tua
frente e provocar uma canelada.

20. Qualquer esforço para se agarrar um objecto em queda provocará mais
destruição do que se deixássemos o objecto cair naturalmente.

21. A única falta que o juiz de futebol apita com absoluta certeza é aquela
em que ele está absolutamente errado.

22. Por mais bem feito que seja o seu trabalho, o patrão acha sempre maneira de
criticá-lo.

23. Nenhum patrão mantém um empregado que está certo o tempo todo.

24. Toda solução cria novos problemas.

25. Quando o político fala em corrupção, os verbos são sempre usados no
passado.

26. Nunca se apanha trânsito ou sinais vermelhos se se saiu cedo demais
para algum lugar.

27. Os assuntos mais simples são aqueles dos quais tu não entendes nada.

28. Dois monólogos não fazem um diálogo.

29. Se és capaz de distinguir entre o bom e o mau conselho, então não precisas de conselho.

30. Ninguém ficará a bater na tua porta, ou a telefonar-te, se não
houver trabalho algum a ser feito.

31. O trabalho mais chato é também o que menos paga.

32. Errar é humano. Perdoar não é a política da empresa.

33. Toda a idéia revolucionária provoca três estágios: 1º. é impossível -
não me faças perder o meu tempo. 2º. é possível, mas não vale o esforço 3º. eu sempre
disse que era uma boa idéia.

34. A informação que obriga a uma mudança radical no projecto sempre chega ao
projectista depois do trabalho terminado, executado e funcionando
maravilhosamente (também conhecida como síndrome do: "Porra! Mas só
agora!!!").

35. Um homem com um relógio sabe a hora certa. Um homem com dois relógios
sabe apenas a média.

36. Inteligência tem limite. Burrice não.

37. Seis fases de um projecto: Entusiasmo; Desilusão; Pânico; Busca dos
culpados; Punição dos inocentes; Glória aos não participantes.

38. Conversas sérias, que são necessárias, só acontecem quando estás com
pressa.
39. Não se dorme até que os filhos façam cinco anos.

40. Não se dorme depois que eles fazem quinze.

41. O orçamento necessário é sempre o dobro do previsto. O tempo necessário
é o triplo.

42. As variáveis variam menos que as constantes.

43. Pais que te amam não te deixam fazer nada. Pais liberais, não estão nem
ai para ti.

44. Entregas urgentes que normalmente levam um dia levarão cinco quando
dependeres da entrega.

45. O único filho que ressona é o que quer dormir contigo.

46. Assim que tiver esgotado todas as suas possibilidades e confessado o teu
fracasso, haverá uma solução simples e óbvia, claramente visível a qualquer
outro idiota.

47. Qualquer programa quando começa a funcionar já está obsoleto.

48. Nenhuma bola vai parar num vaso que odeies.

49. Só quando um programa já está a ser usado há seis meses, é que se
descobre um erro fundamental.

50. As crianças nunca ficam quietas para tirar fotos, e ficam absolutamente
imóveis diante de uma máquina de filmar.

51. Nenhuma criança limpa quer colo.

52. A ferramenta quando cai no chão sempre rebola para o canto mais
inacessível da divisão. A caminho do canto, a ferramenta acerta primeiro no dedo grande do pé.

53. Guia prático para a ciência moderna: a) Se se mexe, pertence à biologia.
b) Se fede, pertence à química. c) Se não funciona, pertence à física. d) Se
ninguém entende, é matemática. e) Se não faz sentido, é psicologia.

54. O vírus que atacou o teu computador, só ataca os arquivos que não têm
cópia.

55. O número de excepções sempre ultrapassa o numero de regras. E há sempre
excepções às excepções já estabelecidas.

56. Seja qual for o defeito do teu computador, desaparece na frente
de um técnico, retornando assim que ele se retirar.

57. Se ela está a dar-te atenção, é feia. Se é bonita, está acompanhada. Se
está sozinha, tu estás acompanhado.

58. Se o curso que desejavas fazer já não tem vagas, podes ter certeza de
que serás o candidato nº 1 a tentar se matricular.

59. Oitenta por cento do exame final que vais fazer, será baseado na
única aula que perdeste, baseada no único livro que não leste.

60. Cada professor parte do pressuposto de que não tens mais o que
fazer, senão estudar a matéria dele.

61. A citação mais valiosa para a sua redacção será aquela em que não
consegues lembrar o nome do autor.

62. Homens fixes são feios. Homens bonitos não são fixes. Homens bonitos e
fixes são gays.

63. A maioria dos trabalhos manuais exigem três mãos para serem executados.

64. As porcas que sobraram de um trabalho nunca se encaixam nos parafusos
que também sobraram.

65. Quanto mais cuidadosamente planeares um trabalho, maior será a tua
confusão mental quando algo der errado.

66. Tudo é possível. Apenas não muito provável.

67. Em qualquer circuito electrónico, o componente de vida mais curta será
instalado no lugar de mais difícil acesso.

68. Qualquer desenho de circuito eletrónico irá conter: uma peça obsoleta,
duas impossíveis de encontrar, e três ainda a ser testadas.

69. O dia de hoje foi realmente necessário?

70. A luz no fim do túnel, é o comboio a vir na tua direcção.

71. A vida é uma droga. E ainda reencarnas.

72. Se está escrito "Tamanho Único", é porque não serve em ninguém.

73. Se o sapato serve, é feio!

74. Nunca há horas suficientes num dia, mas sempre há muitos dias antes do
sábado.

75. Todo o corpo mergulhado numa banheira faz tocar o telefone.

76. A beleza está à flor da pele, mas ser-se feio vai até o osso!

77. A informação mais necessária é sempre a menos disponível.

78. A probabilidade do pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é
proporcional ao valor do tapete.

79. Confiança é aquele sentimento que tens antes de compreender a
situação.

80. A fila do lado sempre anda mais rápido.

81. Nada é tão mau que não possa piorar.

82. O material é danificado segundo a proporção directa do seu valor.

83. Se te sentes bem, não te preocupes. Isso passa.

84. No ciclismo, não importa para onde vais; é sempre montanha acima e
contra o vento.

85. Por mais tomadas que se tenham em casa, os móveis estão sempre na
frente.

86. Existem dois tipos de escaparato: o que não se segura, e o que não sai.

87. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.

88. Sabes que é um dia não quando: O sol nasce no oeste; saltass sda
cama e serra o chão; o passarinho que canta lá fora é um urubu; o teu boneco de cerâmica te morde.

89. Por que será que números errados nunca estão ocupados?

90. Nunca vais usar todo esse espaço de Winchester!

91. Se você não está confuso, não está prestando atenção.

92. Na guerra, o inimigo ataca em duas ocasiões: quando ele está preparado,
e quando tu não estás.

93. Tudo que começa bem, termina mal. Tudo que começa mal, termina pior.

94. Amigos vêm e se vão, inimigos se acumulam.

95. "Pilhas não incluídas"

96. Você só precisará de um documento quando, espontaneamente, ele se mover
do lugar que você o deixou para o lugar onde você não irá encontrá-lo.

97. As crianças são incríveis. Em geral, repetem palavra por palavra
aquilo que tu não deverias ter dito.

98. Uma maneira de se parar um cavalo de corrida é apostar nele.

99. Toda partícula que voa sempre encontra um olho.

100. Uma montanha nunca desce.



Fonte:

Luiz Ferraz Neto

segunda-feira, 3 de março de 2008

A infância




Ainda estou para descobrir quem é a pessoa que me mandou esta relíquia para o mail. Apesar de desconhecer a sua identidade, acho que só pode ser alguém que me conhece profundamente a ponto de saber que foi nesta casa que mais fui feliz. =)
É verdade, tenho sorte de ainda ter avós e de ser uma neta mimadissima.
Desde ter apas quentinhas ao acordar, bolinho de chocolate sempre em casa, o bife cortado à espera de ser mastigado, a avó sentada comigo no sofá a ver os desenhos animados e um avô sempre disposto para a brincadeira foi assim que cresci... A viver a história única de amor daqueles dois senhores que ainda hoje me inspiram e me dão tanto... é bom senti-los por perto.

domingo, 2 de março de 2008

The best one!



"Oh, it's time to let go of everything we used to know
Ideas that strengthen who we've been
It's time to cut ties that won't ever free our minds
From chains and shackles that they're in
From the chains and shackles that they're in
"

Life is a song - Patrick Park


São histórias como esta que me fazem acreditar que os grandes amores perduram no tempo... As despedidas nunca são para sempre...

Vai de retro... perdição!!




Mais uma noite regada a este "suminho"...
Shame on me!

sábado, 1 de março de 2008

Ainda há gente que sabe o que cá anda a fazer... Ainda bem!

A admiração que tenho por este senhor cresce a cada dia.
Não porque na escrita que faz descreve com uma perfeição inigualável, os cheiros, as texturas, os sons, as cores das gentes e terras de África, mas porque a par de livros que nos fazem sonhar e nos remetem para o nosso próprio imaginário, consegue escrever cartas e testemunhos com verdades e factos absolutamente rigorosos sem que com isso perca o interesse.
Pasmei-me a ler isto e quase que acreditei que o Bush também...


"Senhor Presidente:

Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria.

Alguns de nós estranharam o critério que levava a que o nosso nome fosse manchado enquanto outras nações beneficiavam da vossa simpatia. Por exemplo, o nosso vizinho - a África do Sul do apartheid - violava de forma flagrante os direitos humanos. Durante décadas fomos vítimas da agressão desse regime. Mas o apartheid mereceu da vossa parte uma atitude mais branda: o chamado "envolvimento positivo". O ANC esteve também na lista negra como uma "organização terrorista!". Estranho critério que levaria a que, anos mais tarde, os taliban e o próprio Bin Laden fossem chamadas de "freedom fighters" por estrategas norte-americanos.

Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os americanos. Pois sonhei que eu era não um homem mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis factos. E esse temor fez com que proclamasse uma exigência. Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva. Por razão desses terríveis perigos eu exigia mais: que inspectores das Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país me inspirava? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram factos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns:

- Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas atómicas sobre outras nações

- O seu país foi a única nação a ser condenada por "uso ilegítimo da força" pelo Tribunal Internacional de Justiça

- Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão

- O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1988)

- Como tantos outros dirigentes legítimos, o africano Patrice Lumumba foi assassinado com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado e baleado na cabeça o seu corpo foi dissolvido em ácido clorídico

- Como tantos outros fantoches, Mobutu Sese Seko foi por vossos agentes conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992

- A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade".

- O vosso país albergou criminosos como Emmanuel Constant um dos líderes mais sanguinários do Taiti cujas forças para-militares massacraram milhares de inocentes. Constant foi julgado à revelia e as novas autoridades solicitaram a sua extradição. O governo americano recusou o pedido.

- Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam.

- Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional. Mesmo assim a moção foi aprovada pelo voto de cento e cinquenta e três países.

- Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa.

- Desde a Segunda Guerra Mundial os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietname (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999)

- Acções de terrorismo biológico e químico foram postas em pratica pelos EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus da peste contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país.

- O Wall Street Journal publicou um relatório que anunciava que 500 000 crianças vietnamitas nasceram deformadas em consequência da guerra química das forças norte-americanas

Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade. A guerra que o Senhor Presidente teimou em iniciar poderá libertar-nos de um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres. Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas já precárias economias e teremos menos esperança num futuro governado pela razão e pela moral. Teremos menos fé na força reguladora das Nações Unidas e das convenções do direito internacional. Estaremos, enfim, mais sós e mais desamparados.

Senhor Presidente:

O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens.

O que está destruindo massivamente os iraquianos não são armas de Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções. Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: "Estamos destruindo toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral". Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de crianças iraquianas.

Mas a guerra contra o Iraque não está para começar. Já começou há muito tempo. Nas zonas de restrição aérea a Norte e Sul do Iraque acontecem continuamente bombardeamentos desde há 12 anos. Acredita-se que 500 iraquianos foram mortos desde 1999. O bombardeamento incluiu o uso massivo de urânio empobrecido (300 toneladas, ou seja 30 vezes mais do que o usado no Kosovo)

Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo. E que pensem que, para viverem tranquilos, precisam de construir uma fortaleza. E que só estarão seguros quando se tiver que gastar fortunas em armas. Como o seu país que despende 270 000 000 000 000 dólares (duzentos e setenta biliões de dólares). por ano para manter o arsenal de guerra. O senhor bem sabe o que essa soma poderia ajudar a mudar o destino miserável de milhões de seres.

O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu-lhe no final do ano passado uma carta intitulada "Porque é que o mundo odeia os EUA?" O bispo da Igreja católica da Florida é um ex-combatente na guerra do Vietname. Ele sabe o que é a guerra e escreveu: "O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram lideres popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais? E o bispo conclui: O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor ouviu falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas ao povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais."

Senhor Presidente:

Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional legitime o seu direito de intervenção militar. Ao menos que possamos nós encontrar moral e verdade na sua argumentação. Eu e mais milhões de cidadãos não ficamos convencidos quando o vimos justificar a guerra. Nós preferíamos vê-lo assinar a Convenção de Kyoto para conter o efeito de estufa. Preferíamos tê-lo visto em Durban na Conferência Internacional contra o Racismo.

Não se preocupe, senhor Presidente. A nós, nações pequenas deste mundo, não nos passa pela cabeça exigir a vossa demissão por causa desse apoio que as vossas sucessivas administrações concederam apoio a não menos sucessivos ditadores. A maior ameaça que pesa sobre a América não são armamentos de outros. É o universo de mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos. O maior perigo não é o regime de Saddam, nem nenhum outro regime. Mas o sentimento de superioridade que parece animar o seu governo. O seu inimigo principal não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos próprios americanos.

Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação para consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar.
"

Mia Couto