quinta-feira, 31 de julho de 2008

Goa

Lembro-me hoje da minha 1ª viagem...

Tinha 5 anos e a minha mãe quis ir a Goa. Decide que me leva com ela e embora não consiga precisar, só pode ter havido uma intensa preparação psicológica para esse mês que passei do outro lado do mundo.

Cá deixámos o meu pai e a minha irmã ainda bebé. Ainda me vejo mínima a despedir-me deles no aeroporto e a embarcar no avião da Lufthansa pela mão de mi madre. Fizémos escala em Frankfurt e um dia depois aterro numa cidade completamente diferente - Bombaim.

Tudo era estranho: as pessoas, as ruas sujas, os cheiros que não conseguia identificar... No entanto nada disso me parecia interessar. A tal preparação psicológica funcionou na perfeição e eu ainda que criança, estava bem ciente ao que ia: conhecer os meus antepassados e origens.

A casa do meu tio-avô ficava numa das ruas mais movimentadas da cidade. Era uma cave pequena que albergava 5 pessoas, uma delas a minha bisavó, a única que conheci. Não percebia patavina do que ela me dizia mas consigo discernir cada ruga do seu rosto e o sorriso que rasgava de cada vez que eu protagonizava um disparate qualquer.

Lembro-me ainda de visitar a escola onde a minha tia dava aulas, com turmas gigantes uma vez que os professores escasseavam...

E foi aqui que me raparam o cabelo... Porquê? Porquê? Piolhitos, claro está.

Embarque até Goa.

Mais familia à nossa espera. Embora aqui as memórias não sejam tão precisas, há coisas que se me estão coladas à pele como por exemplo as lágrimas que rolaram na minha face quando conheci o meu avô, de andar com ele de bicicleta ou de tirar chicletes dos frascos lá da barraca que ele tinha junto ao porto.

Ainda me sinto pequena ao imaginar a casa dele, com pé direito gigante e as ventoinhas no tecto. A vaca no quintal e o leite fresco pela manhã eram o símbolo de Pangim perdida no tempo.

Corre-se-me o vento na cara e invade-me uma liberdade ao lembrar-me da moto que me levou a uma das praias mais bonitas da região... qual postal!!

Não vejo o meu primo Sean desde essa altura em que eu catraia, armada em cantora, desfilava todos os hits daquele tempo e quando me calava, lá o ouvia dizer: Sing a song. - algo a que eu respondia prontamente com um pinipon. Sim, sim... eram os bonecos sensação da minha infância. Associação feita obviamente, pela rima.

Subir as escadas da igreja do Bom Jesus e visitar o túmulo de São Francisco Xavier and wondering myself como era possível o corpo do senhor se manter em tão bom estado de conservação...

A água de coco!! A casa de férias de família onde coubemos tantos de nós...

A tia Felicidade e as bolachas que nunca mais comi iguais...



Tanta e tanta coisa que guardo comigo como religiosas lembranças de um regresso ao passado. Ainda que com 5 anos, o sentido de responsabilidade foi em proporção suficiente para o que se cumpriu.
Agora 20 anos depois, o desejo é de lá voltar assim que possível. Talvez haja uma nova leitura a fazer-se da também, MINHA TERRA!

3 comentários:

F disse...

lindo ;) as tuas origens sao fascinantes... e ficam-te lindamente! mwah babe

continua a entreter-nos com estas pérolas.. sim eu leio! :)

JOÃO disse...

ja te conheço há tanto tempo e no entanto desconhecia as tuas origens. curti muito do teu texto. Beijinhos!

JOÃO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.