quinta-feira, 17 de julho de 2008

Desarmada

Quando começa uma pessoa a nascer? Quando começa a morrer? Será que começa a morrer ainda antes de ter nascido por inteiro? Sentado numa cadeira de praia interrogo o pé que desenha na areia quente uma âncora. E depois a âncora desenha um coração. E depois o coração desenha uma janela. Levanta-se da cadeira, aproxima-se da janela, debruça-se, dá um impulso ao corpo magoado e cai. Só o vento o acompanha. Está ainda a nascer? Ou começou agora? Meu amor, vejo-te nascer todos os dias, com os olhos estremunhados e o polegar enfiado na boca. Escondo de ti que todos os dias comecei a morrer, desde sempre, envergonhado de não ter guelras, ou asas, ou orelhas com pêlo felpudo. Aproveito o teu nascimento ininterrupto para dar um salto para junto de ti, e ter a ilusão, a alegria, a flor, a moeda mágica, que vão garantir que é contigo que nasço em cada dia que nasces.

Eduardo Prado Coelho

Obrigada gigante, sweetie!!

0 comentários: