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quinta-feira, 10 de abril de 2008

O abraço


No momento em que nasceram os céus
com eles nasceu a terra,
no momento em que nasceram as plantas
com elas nasceram os animais.
No momento em que nasceram as pessoas
surgiu também com elas
A Linguagem dos Abraços...




A Linguagem dos Abraços
não contém quaisquer palavras,
nem é vazia de sentido.
Acima de tudo, o que nós desejamos nela,
é que o nosso abraço seja eterno e infinito




Vem e abraça-me.

Michal Snunit



Literatura infantil e as grandes lições... Once and again!
Que saudades de perder horas a fio em livrarias a folhear estes pequenos tesouros...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Senhoras e Senhores, Raúl Brandão

"Quiseste fazer rir e agora fazes rir. Viveste de sonho, tentas voltar à realidade - e a realidade atira-te para o sonho. Se abres a boca para falar de amor, todos desatam a rir. A realidade vinga-se. A realidade não cria palhaços como tu, a realidade cria homens, e os que se esquecem de viver não devem acusar a vida. Tens de ser palhaço até à morte. É inútil quereres voltar para trás, e para cada grito de dor que soltes conta com uma risada de escárnio. Fizeste da vida artifício, para representares as tuas farsas, e agora teimas em recomeçá-la? ...Palhaço!, palhaço!... Davas tudo para não sonhares - para viveres - e a realidade obriga-te a caminhar até ao fim. Palhaço!, palhaço!... Talvez todos os homens, num dado momento da vida, perguntem a si próprios, numa angústia: - errei a vida?, o meu amor foi o verdadeiro amor?, o sonho que sonhei o melhor sonho? Felizes os palhaços que são palhaços até à última hora com a mesma convicção - e que não sentem este desespero e este fel. Palhaço!, palhaço!, a tua vida foi um sonho - agora sonha! Quem se habituou a sonhar tem de sonhar sempre, de se fechar por dentro com o seu sonho, para fugir à realidade. Agora só te resta fazer do sonho e da morte um sonho maior e mais belo."

A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore


Raúl Brandão

domingo, 30 de março de 2008

A senhora emancipada



Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.


Clarice Lispector


Reconhece-se na sua obra e consequentemente na sua pessoa, uma mescla de fragilidade, determinação, vontade, receio, ambição, avanços, recuos... Como se o contrasenso pudesse habitar numa só alma, sendo isto perfeitamente normal. Resta-me a pergunta - E não o é?
O que importa: Adoro Clarice Lispector! É a perfeita representação de tudo o que a Mulher é. Ou deveria ser!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Já não se morre de amor...

O senhor tem um problema no coração” diz já o doutor (…) O seu coração está muito fraco e isto é a sala de operações”, disse-me enquanto pegava numa espátula. “Você está a morrer de Amor, é maligno, lamento dizer-lhe que não lhe resta muito mais tempo, que não existe cientificamente cura para o mal de que padece. Não é o único, não será o único e só as radiografias que lhe vou tirar poderão dizer-me quanto tempo lhe resta. (…) “Afinal estava enganado, não é desta que morre, você tem cura, não há a menor dúvida, está tudo aqui, nas radiografias que lhe tirei ao coração. E no fundo era tão fácil, ao alcance de qualquer olhar, repare bem nelas, observe-as e diga-me o que elas dizem .E então, nesse preciso momento, peguei nas radiografias que tinham tirado ao meu coração e estiquei os braços em direcção ao sibilante fio de luz que entrava pela única janela do meu quarto, reparando agora com toda a clareza, que no meu coração, estava inscrito um nome, o teu, em letras muito pequenas.

Fernando Alvim

in No dia que fugimos tu não estavas em casa.


... mas há alturas em que parece que vemos mesmo a morte de perto. Chamar-se-á a isso saturação?

terça-feira, 25 de março de 2008

Falar, falar, falar e nada dizer...

Passei por ti na rua. Fingiste não me ver. O teu olhar seguiu as pedras da calçada como se só elas, no seu silêncio te merecessem atenção, te atraíssem, te prendessem. Deixei-te seguir o teu caminho, silenciosa, cabisbaixa, acabrunhada, virada par dentro de ti mesma, como se o mundo ao teu redor não existisse, não te interessasse, nada tivesse para te dizer. Como se apenas tu existisses na imensidão deste cosmo em que rodamos sem poder contrariar a sua velocidade e sua direcção. Não quis falar contigo naquele momento, porque sei que há momentos que precisamos estar sós para nos encontrarmos, para fazer as pazes com os nossos sentimentos que a vida perturba. Amamos, odiamos, sofremos e sentimos a nossa pequenez e nossa incapacidade de fazer com que o mundo se volte e siga o rumo que nós queríamos que ele seguisse. Não conseguimos que a nossa vontade comande o mundo. Queríamos que os outros seguissem o nosso caminho, viessem ao encontro dos nossos desejos, das nossas necessidades. Eles não vêm. Aquele que amamos ignora-nos. É cruel este mundo. Mas é assim. Esse outro que nós amamos é um ser igual a nós. Também ele não consegue mudar o mundo. Também ele ama e, talvez também não seja amado como gostaria e como tinha direito. Todos temos direito à satisfação dos nossos desejos, dos nossos sentidos, ao gozo e usufruto da beleza, da arte da música, da poesia, ao amor.
E o que fizeste tu para mudar este teu estado de sofrimento? Pensaste que não és a única?! Que também aqueles que passam por ti, mesmo aqueles que parecem ser felizes, também podem não o ser? O que fizeste para sair da tua solidão? O que fizeste para reparar, para minimizar a solidão dos outros? Ofereceste um sorriso ao teu vizinho? Telefonaste aquela tua amiga que já não vês há muito tempo? Convidaste os teus amigos, as tuas amigas para um chá, um café em tua casa ou na pastelaria onde passaram bons momentos? Lembraste-te de oferecer uma flor a quem está perto de ti.
Não!... não te lembraste disso. A tua solidão voltou os teus sentidos para dentro de ti.
Eu não quis dizer-te nada naquele momento. Digo-te agora. Os outros podem fazer alguma coisa por ti. Mas és tu....só tu... que podes fazer todo o bem por ti própria.
Sai de ti.... volta-te para o mundo, para os outros, sorri, fala, comunica, oferece, dá de ti tanto que tens para dar, e encontrarás o teu caminho, o remédio para a tua solidão.
Eu estou à espera do teu amor.


João Norte

INTRO.VERTIDO



Porque na literatura portuguesa, há autores e pessoas que merecem ser descobertos... Que (em alguns casos) têm tanto ou mais valor que muitos que para aí andam e pouco ou nada escrevem.
Porque cada vez mais me apercebo que é na simplicidade que encontro as minhas maiores e melhores lições...
Porque no universo dos meus imensos porquês, quaso sempre alcanço as respostas de que preciso com coisas pequenas mas inteiras.


http://intro.vertido.weblog.com.pt/

Façam o favor de espreitar!!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Domingo...

... é dia de tédio e de diletantismo. Para além de se arrumar e limpar os vestígios da noite anterior pouco mais se faz para além de papar séries em catadupa e pôr a leitura em dia. A ler 3 livros ao mesmo tempo, nunca sei em qual pegar... Este já cá anda há imenso tempo e não estava na mesa de cabeceira... fui buscá-lo por acaso.
Por sorte e porque alguém na blogosfera também lhe prestou atenção foi só fazer copy/paste:


«Somos felizes. Acabámos de pagar a casa em Outubro, fechámos a marquise, substituímos a alcatifa por tacos, nenhum de nós foi despedido, as prestações do Opel estão no fim. Somos felizes: preferimos a mesma novela, nunca discutimos por causa do comando, quando compras a TV Guia sublinhas a encarnado os programas que me interessam, lembras-te sempre da hora daquela série policial que eu gosto tanto com o preto cheio de anéis a dar cabo dos italianos da Máfia.


Somos felizes: aos domingos vamos ao Feijó, visitar a tua mãe, ficas a conversar com ela na cozinha e eu passeio com o indiano, filho de uma senhora que mora lá no pátio, assistimos ao basquete dos sobrinhos dele no pavilhão polivalente, comemos uma salada de polvo no café durante os resumos do futebol e voltamos para Almada à noite, com o jantar que a tua mãe nos deu numa marmita embrulhada no Record, a tempo de assistir às perguntas sobre factos e personalidades do concurso em que a apresentadora se parece com a tua prima Beatriz, a que montou um pronto-a-vestir no centro comercial do Prior Velho.

Somos felizes. A prova de que somos felizes é que comprámos o cão no mês passado e foi por causa do cão que tirámos a alcatifa que as unhas do animalzinho rasparam de tal forma que já se notava o cimento do construtor por baixo. Andámos a ensiná-lo a não estragar as cortinas, pusemos-lhe uma coleira contra as pulgas depois de uma semana inteira a coçarmo-nos sem entender porquê, passados dois dias o Fernando começou a coçar-se também e a acusar-me de cheirar a cachorro e levar pulgas para a repartição, o chefe avisou-me do fundo:
- Veja-me lá isso Antunes
De modo que pus também uma coleira contra as pulgas debaixo da camisa, o Dionísio, espantado
-deste em cónego ou quê?
E eu, envergonhado, a abotoar o colarinho ripostei:
-é uma coisa chinesa para o reumatismo a Jóia Magnética Vitafor é uma porcaria ao pé disto
e como nas Finanças se respeitam o reumatismo e as coisas chinesas, nunca mais me maçaram.

Às segundas, quartas e sextas sou eu que vou lá abaixo levar o cão a fazer chichi contra a palmeira, às terças, quintas e sábados é a tua vez e o que não vai lá abaixo fica à janela, a olhar o bichinho a cheirar os pneus dos automóveis com o ar sério de quem resolve problemas de palavras cruzadas que os cães têm sempre que farejam postes e Unos.

Somos felizes. Por isso não me preocupei no sábado com o animal muito entretido na praceta e tu atrás dele, de trela enrolada na mão, sem olhares para cima nem dizeres adeus, a andar devagarinho até desapareceres na travessa para a estação dos barcos. Foi anteontem. Às onze horas tirei o cozido do forno e comi sozinho. Ontem também. Hoje também. Não levaste roupa nem pinturas nem a fotografia do teu pai nem nada.

Ainda há bocadinho acabei de gravar o episódio da novela para ti. A tua mãe telefonou a saber porque é que não fomos ao Feijó e eu disse-lhe que daqui a nada lhe ligavas. Porque tenho a certeza de que não foste embora visto sermos felizes. Tão felizes que um dia destes vou comprar um micro ondas para, se chegares a casa, teres a comida quente à tua espera.»


-- António Lobo Antunes, Livro de Crónicas, edições Dom Quixote (1995)

E é assim que os outros vão dando voz aos meus pensamentos. Não é um amor destes que me faz falta. Thank god

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Lengalengas

Já assumi perante os demais, a minha paixão por literatura infantil. Coisa recente, talvez descoberta ao longo do meu percurso académico, mas a verdade é que os livros para os mais pequenos me prendem a atenção, fascinam-me e de certa forma ajudam-me a percorrer uma outra realidade, por vezes bem mais agradável...
Houve alguém que sabendo disso, procurou, pesquisou e ofereceu-me este presente:

"http://lengalengas.wordpress.com/"

E eu aqui estou, a perder horas a percorrer todas as sugestões que o site oferece e a acrescentar à minha lista, mais livros para comprar...

A ti que em tão pouco tempo entraste no meu mundo, cultivando-o e conquistando-o, dando provas que há partilhas maiores e talvez melhores... Obrigada! Sabes bem que te adoro...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Em jeito de declaração final...

Ausente por uns dias, não encontrei forma melhor de dizer: Até já!

Luminoso afogado
E se a morte te esquecesse?
Ficarias aí deitado, o olhar fixo noutros olhares. Silencioso, ou a contar histórias de barcos, de oceanos e de mares, de peixes e de turbulentos rios - até que a luz poeirenta do mundo se extinguisse, para sempre.
Asfixiado pelas areias da praia onde a vaga fosforosa te abandonou.
Por que é que eu caminho no fundo deste tempo escuro e já não existo?
Mas nada acontece, porque a tua morte me tolheu. Não se ouve um fio de voz.
Resta o teu corpo deitado sob a respiração febril de quem se deu ao trabalho piedoso da vigília.
É através da memória dos outros que recordas o rosto que tiveste.
O que quero dizer é que já não sinto nada quando te olho. O rosto está morto e amortalhou o meu.
Outrora, quando navegavas, escrevia-te para contar o que não tinha sentido na viagem. Hoje, penso em ti como se fosses uma música da alma.
O teu olhar de morto e o meu são cúmplices, e ainda não deu hora nenhuma. Temos tempo de sobra.
Vou ressuscitar-te, assim poderás contar-me em sussurro o que fomos.
Eu poderei contar-te o que esqueci. Esta canção quase perdida na casa do nosso passado.
O sonho tem manchas de frutos sorvados no coração. Tem palpitações de sangue e de ilhas, de mares que se espreguiçam para dentro das cidades. E estas sobrevivem envoltas num véu de neblinas. Vemo-las tremeluzir no turvo crepúsculo das praias.
Que ponte levadiça trará de novo o desejo esquecido nos postos longínquos?


al berto

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Letras e Letrias



Porque no mundo da literatura infantil, há autores com créditos firmados aqui deixo a referência a José Jorge Letria que na sua vasta obra inclui este "Letras e Letrias" escrito em parceria com o sobrinho, André.
Pertencendo a um género literário que até agora me era desconhecido - greguerias - surpreende pelas metáforas tão bem conseguidas, pelas ilustrações e pela originalidade com que nos desafia a rever todas as conceptualizações e definições que cada um de nós tem acerca de elementos do real. Muito bom!

"A alegria de um menino dá frutos do tamanho do seu riso.
O silêncio é uma música que emudeceu de espanto.
A escuridão é o pijama da noite.
O fim é o príncipio do avesso.
O quadro negro nunca muda de cor porque o giz não deixa.
Um palhaço é um nariz vermelho com uma gargalhada dentro.
A paisagem é a imagem de um postal que saltou para dentro da vida.
O anão tem sempre algo mais pequeno do que ele dentro da mão.
Os gatos só conhecem um dono - a liberdade.
O vaidoso gostava de morar dentro de um espelho.
O morcego dorme de cabeça para baixo para ver se, assim, o mundo faz mais sentido.
A mentira é a verdade que se escapa.
O burro é um cavalo que desistiu de acabar o curso.
O amor é o que se diz só para confirmar o que se sente.
Confúcio fazia uma grande confusão entre a roca e o fuso.
O inimigo é um amigo do avesso.
A lua empalideceu de vez quando se apercebeu do tamanho do universo.
Quando o mar se evaporar, os peixes ganharão asas.
A flor do lótus tem o perfume da China em cada pétala.
A noite deita-se sempre na cama que o dia faz.
O estúpido pensa que a inteligência é um luxo caro.
O azul é a pele do céu e as nuvens são as sardas que o salpicam.
O relâmpago é a máquina fotográfica da trovoada.
Os reis nunca ficam pobres porque têm coroas.
O poeta é um farol a iluminar as palavras que ainda ninguém usou.
O sonho é uma árvore a crescer dentro do sono."